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Reunião com Chris Palmer e a luta pela mudança das diretrizes nutricionais

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No dia 24 de janeiro de 2020, grandes nomes da medicina Low Carb / Cetogênica se dirigiram a Houston, onde ocorreu a reunião do Dietary Guidelines for Americans, o comitê que influencia nas chamadas diretrizes nutricionais do Governo dos EUA. Por estarmos falando dos Estados Unidos, sabemos que os efeitos impactam as diretrizes nutricionais do mundo todo.

Dentre os defensores das dietas de baixo carboidrato como opção nas diretrizes oficiais, estavam Nadir Ali, Ted Eytan, Eric Sutton, Doug Reynolds – criador do Low Carb USA, além do psiquiatra Chris Palmer (Harvard/McLean), que utiliza a Dieta Cetogênica Terapêutica para tratamento de desordens como bipolaridade, esquizofrenia e depressão e outros Transtornos do Humor. O evento foi transmitido ao vivo e você pode conferir na íntegra ao final do conteúdo. Logo abaixo do vídeo, você encontrará a tradução da fala do Dr. Palmer.

O trabalho de Palmer tem sido pesquisar e educar sobre as relações (causais ou não) que existem entre as conhecidas doenças metabólicas, como diabetes e síndrome do ovário policístico, e transtornos mentais já mencionados. Também, os neurológicos. Mais sobre o Dietary Guidelines for Americans abaixo.

Reunião com Chris Palmer MD

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Neste domingo (26/01), nos reunimos com Dr. Palmer ao vivo para discutirmos formas de expandirmos a conscientização da Cetogênica na psiquiatria, como tratamento de desordens metabólico-mentais, termo que utilizarei com frequência daqui para frente.

Passamos muitas horas juntos, em um grupo pequeno, trocando as mais variadas ideias sobre levantamento de fundos para pesquisas, divulgação, abordagens etc. Como manter as pesquisas, como fazer o trabalho ser conhecido pela comunidade científica e pelo público-alvo (mães, pais e pacientes destas desordens). Acima de tudo, como manter responsabilidade sobre as dificuldades da Cetogênica Terapêutica, que é uma abordagem nutricional muito diferente da cetose para bem-estar.

(sim, me dedicarei muito tempo ao site, atualizando os conteúdos passados. Aguardem, por favor)

Cetogênica Terapêutica ou Low Carb?

Dr. Palmer é conhecido pela Cetogênica terapêutica para transtornos psiquiátricos, mas ele tem abraçado a causa da Low Carb também, que foi o porquê da sua presença no Dietary Guidelines for Americans:

“Mantenho Low Carb e Cetose Terapêutica separadas, porque uma dieta para promover saúde e bem-estar é diferente de uma dieta para tratar doenças mentais ou doenças raras. Se me perguntassem há três semanas se eu me envolveria na comunidade low carb, eu diria que não, porque eu tinha meu foco na Keto Terapêutica. Mas, voltando de Houston, eu sinto que o movimento precisa de ajuda.”

Aqui, no site, vocês verão a faceta Cetogênica do médico (pedi licença para mantermos nosso foco apaixonado na cetose terapêutica). Porém, é fundamental explicar alguns motivos pelos quais Palmer está participando da campanha Low Carb:

1) O comitê está tentando oficializar o dado de que Low Carb seria a partir 45% das calorias de carboidratos. Sabemos que, se isso ocorrer, os resultados dos estudos incluídos na análise não terão resultados suficientemente positivos para que a Low Carb seja aprovada.

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Médicos e entusiastas da Low Carb em Houston, no Dietary Guidelines for Americans 2020

2) A Low Carb Action Network* define uma dieta de baixo carboidrato como máximo de 25% das calorias vindas de carboidratos. Isso precisa ser estabelecido [*Low Carb Action Network é uma rede de médicos Low Carb que busca institucionalizar a dieta de baixo carboidrato. Foram eles que organizaram a ida dos médicos a Houston. Conheça o site da Low Carb Action]

3) A importância de estabelecer padrões fica clara no caso de estudos sobre jejum. O Comitê não aceitou pesquisas sobre jejum este ano, porque definiram o jejum como jejum seco, sem água, e os estudos apresentados incluíam água. Os estudos foram descartados pelo comitê.

4) Ainda, a maneira de lutar de Palmer é bastante atípica, já que ele tem como meta lutar a partir de dentro do establishment, do instituído, e não gerar uma comunidade Low Carb separada. Para isso, prevemos um tempo mínimo de 10 anos de esforço para mudarmos as estruturas oficiais. “Assim que a Low Carb estiver na diretrizes oficiais, os pais poderão ir às escolas e exigir refeições de baixo carboidrato. Será um direito da população”, explicou Palmer na reunião.

Tempo, resiliência e amor não nos faltam. 

Planos para o futuro da Cetogênica e Low Carb

  • As novas diretrizes nutricionais norte-americanas sairão em seis meses. A busca, agora, é influenciar a opinião do comitê pressionando jornais para entrevistas com os médicos Low Carb ou enviando cartas para os editores destes veículos.
  • A partir daqui, me torno a tradutora e divulgadora oficial do trabalho de Palmer no Brasil. Já peço a todos que colaborem na causa, que não é minha ou sua, mas sim das mães de crianças com doenças neurológicas raras e pacientes de doenças mentais que, neste momento, ouvem que terão que passar o resto de suas vidas em casa, sob efeito de medicações.
  • Por último, Palmer nos adiantou o tema de seu pôster no Metabolic Health Summit, que ocorrerá na próxima semana. Devo adiantar que é algo que interessa a absolutamente todas as pessoas que desejam entrar na Cetogênica. Já mencionei aqui: os efeitos negativos da entrada em cetose, efeitos aqueles psicológicos/neurológicos, que não se tratam de eletrólitos. Ainda não posso divulgar, mas logo mais poderemos abordar este tema.
  • Após o Metabolic Health Summit, Dr. Palmer irá para a Inglaterra, onde falará na Sociedade de Epilepsia, sendo o primeiro médico fora da neurologia a abordar Cetogênica na instituição.

O mundo está se abrindo ao potencial da cetose para as desordens mentais e, mais ainda, para a ligação entre neurologia e psiquiatria. Agradeçamos a quem estimula a lucidez na medicina.

O que posso dizer? Confio no trabalho deste homem acima de tudo. Conhecê-lo de perto reforçou ainda mais minha segurança e aposta no esforço dele por todos nós.

Assista ao Dietary Guidelines for Americans

Veja os depoimentos dos médicos e entusiastas e leia abaixo a fala de Palmer.

Meu nome é Chris Palmer. Eu sou médico e pesquisador na Faculdade de Medicina de Harvard. Como todos sabemos, temos uma epidemia de diabetes e obesidade neste país.

A maioria parte do pressuposto que são doenças do estilo de vida. Elas envolveriam escolhas. O que as pessoas comem e se elas praticam exercícios físicos.

Simples explicações com simples soluções: coma menos e se exercite mais.

Estou aqui para lhes dizer que não é tão simples. Há 25 anos, quando eu era um jovem médico, eu também seguia as diretrizes nutricionais. Eu comia o que era recomendado e me exercitava regularmente.

Eu era meticuloso, pois queria evitar o destino que eu via no hospital diariamente. Porém, as diretrizes não funcionaram para mim.

Eu tinha pressão alta e colesterol alto, mesmo que eu tivesse apenas 20 anos. Após anos de diretrizes nutricionais que não funcionavam, me disseram que eu precisava de remédios. Em um último ato de desafio, eu mudei minha dieta para Low Carb.

Três meses depois, meu perfil cardiovascular melhorou dramaticamente. Nunca mais olhei para trás e me mantenho saudável sem medicações por 23 anos nesta dieta.

Como médico, quero compreender o que aconteceu. Por que as diretrizes falharam comigo? O que podemos fazer para ir além?

As diretrizes não eram baseadas na melhor ciência. Eram embasadas em estudos correlacionais, não estudos randomizados controlados. Todos sabem que correlação não é causa. Queria que o comitê do passado soubesse disso.

Também, sabemos que, quando as dietas mantêm as pessoas famintas, elas estão destinadas ao fracasso. Se as pessoas sentem fome frequentemente, manter um peso saudável é próximo de impossível.

Atualmente, temos evidência mostrando que a fome é gerada por variados hormônios e há efeitos no cérebro. Um deles é a insulina.

Quando um cérebro tem resistência à insulina, ele sente fome. O que podemos fazer a respeito disso?

Uma solução comprovada é seguir uma dieta de baixo carboidrato. Agora, a ciência explica tão bem porque esta dieta funcionou tão bem para mim: mas, não se trata apenas de mim. Como médico vi a Low Carb funcionar para incontáveis pacientes.

Tenho um paciente, no momento, que perdeu mais de 75kg e segue assim por mais de quatro anos. Ele segue firme e forte. Vale a pena mencionar que ele foi diagnosticado com esquizofrenia.

A maior parte das pessoas o via como profundamente doente e desmotivado. Mesmo assim, ele o fez. Ele segue fazendo, porque funciona.

Com direcionamento correto e preciso, ele consegue manter um peso saudável agora. Seu perfil cardíaco também melhorou dramaticamente.

Peço-lhes que priorizem a ciência e incluam uma dieta de baixo carboidrato ao menos como opção nas novas diretrizes.

A Associação Americana de Diabetes o reconheceu e vocês também deveriam fazê-lo. Centenas de milhões de pessoas estão contando com vocês para consertar esta questão.

12 Comentários

  1. Excelente fala do dr. Palmer! Enriquecedora ☺
    Só fiquei com dúvida sobre o jejum. Porque os estudos de jejum com água foram descartados?

    1. Porque o comitê decretou que jejum não podia ter água. Se houvesse água no estudo, ele não poderia ser usado. Daí, a importância de ter padrões definindo o que é jejum, o que é low carb e o que é cetogênica. Mas, é tudo muito novo ainda. Possivelmente, estas diretrizes serão estabelecidas por estas instituições como a ABLC aqui no Brasil ou a Low Carb Action Network norte-americana. 🙂

  2. Este texto me trouxe algumas esperanças. Fiquei com o coração cheio. Esperança que apareçam mais médicos com Dr. Palmer e consultores com você. Esperança de mudança de mentalidade das atuais diretrizes….Resultando em esperança de mais saúde para todos.

  3. Olá ! Juliana
    Sou sua seguidora me chamo Lilian, te sigo à algum tempo e tenho estudado sobre epilepsia,tenho crises desde os 18 anos hoje estou com 40.
    Confesso que já tive vontade de desistir de viver . Há alguns anos atrás fiz essa dieta por 8 meses para emagrecer e foi a melhor fase da minha vida .
    Foi quando eu vive bem n tinha dores nenhuma principalmente crises por 8 meses mais como ñ sabia como era reamente a sueficiência para o problema parei .Há! nunca mais fui a mesma a história é longa .Ja passei por muitos neurologista ,agora estou fazendo tratamento com psiquiatra mais à cada dia vejo q o meu foco é essa dieta converso com eles e eles ñ sabem sobre o assunto .
    Resolvi fazer por conta mesmo tomando os remédios e eles vendo o qnto melhorei .
    Quiz te contar e te agradecer por esse trabalho maravilhos q vc faz.
    Parabéns e te mantenho informada sobre os meus resultados .
    Obrigada!

    1. Lilian, que relato mais precioso. Sim, o número de adultos que conduzi com epilepsia não foi imenso o suficiente, mas temo dizer que dei muita sorte, porque os estudos apontam que a Cetogênica pode frear totalmente as crises em cerca de 20% das pessoas. Melhoria significativa (redução de crises acima de 50%) em até 55% dos casos. Por aqui, foi muito mais elevado do que isso. Mesmo assim, é uma abordagem de tratamento tão maravilhosa, que indicaria a todos tentar.

      Por favor, caso precise de uma consultoria para ajustar algum problema ou resolver dúvidas, me chame. Tenho verdadeira paixão pelo tema. Siga por perto e vá me relatando como está!

  4. Juliana. Parabéns pelo belo trabalho que fazendo!
    A minha questão é: A Cetogênica prejudica a visão? Já teve a acesso a alguma caso ou estudo falando a respeito?

    Gratidão!

    1. te refere aos olhos secos (dry eyes)? Se for isso, vejo que é relativamente comum, apesar de não ter passado por isso com meus clientes. Talvez, pelo fato de que eu sempre suplemente o suplemento mais indicado para tratar este problema, óleo de peixe. Ainda, sugiro muita hidratação na adaptação, porque sei o terror que é. Então, óleo de peixe e muita água para o senhor. Se não for este problema, por favor, me avise!

  5. Nossa, quanto mais leio seus artigos, mais empolgada fico com a questão terapêutica da cetogênica!
    Hoje tenho 41 anos, fiz bariátrica aos 34, por conta da obesidade que me rendeu diabetes tipo 2 e várias outras comorbidades, perdi minha mãe com 51 anos para essa doença e meu pai com 69 pelo mesmo motivos, ambos sofreram muito com as consequências do diabetes, os dois eram pacientes renais crônicos, faziam hemodiálise, foram amputados e ficaram cegos, muito sofrimento que poderia ter sido evitado, se houve o conhecimento mais difundido dessa terapia. Muitíssimo obrigada por sua contribuição. Já algum trabalho sendo desenvolvido no Brasil com nossos profissionais?

    1. Low Carb para diabetes é um dos braços mais populares do uso da restrição de carboidratos, Mislene. Há incontáveis médicos utilizando esta abordagem. Contudo, cetose terapêutica para diabetes (ou qualquer outra desordem que não epilepsia) ainda é bastante desconhecida por aqui. Lembrando que o grande nome a seguir neste caso é Stephen Phinney, da Virta Health, primeira clínica de reversão de diabetes com Dieta Cetogênica.

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