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Novas evidências: Dieta Cetogênica para saúde mental

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Há duas novas publicações relevantes à Cetogênica para saúde mental. Quero que você as envie ao seu médico. As publicações avaliam os mecanismos da cetose no cérebro, bem como relatam, formalmente, as melhorias que os profissionais têm encontrado em seus clientes.

Neste conteúdo, pontuarei algumas questões mencionadas nos artigos, mas trago especialmente os pontos de interesse geral, como modificações na Dieta Cetogênica para reduzir problemas de colesterol e gastrointestinais, novos tipos de MCT que potencializam a cetose, uso de ésteres e ativação da AMPK, algo buscado pelos praticantes do jejum.

Então, fique até o fim independentemente do seu objetivo. Ele estará aqui.

Antes de começarmos, deixo vocês com as duas publicações. Clique nos links para ler na íntegra.

Cetogênica para doenças mentais (cerebrais): novas evidências

Estas novas publicações são fundamentais para compreendermos a seriedade da cetose na saúde mental. Aqui, falamos de desordens neuroprogressivas, que incluem Parkinson, Bipolaridade, Esquizofrenia, Alzheimer, Depressão etc.

Christopher Palmer e a Cetogênica para doenças mentais

A primeira publicação é um artigo do psiquiatra de Harvard Christopher Palmer, nome conhecido aqui no site, já que sou parte da equipe de voluntários dele.

Palmer reunirá dados, relatos, estudos e evidências sobre a Cetogênica para o The International Journal of Neuropsychopharmacology.

O foco desta publicação é a prática clínica: relatos de médicos publicados em periódicos pelo mundo. Você encontrará os tipos de Dieta utilizados, como a Cetogênica foi feita, quais medicações as pessoas tomavam e quais melhorias obtiveram.

Dois transtornos psicóticos estarão na pauta principal: esquizofrenia e transtorno esquizoafetivo.

Obviamente, haverá comorbidades em muitos casos: déficit de atenção, depressão, anorexia, ansiedade. É importante que você entenda isso, porque definir exatamente as desordens das quais você sofre é uma tarefa hercúlea. As doenças se misturam e os limites entre elas são difusos. Ainda, os estudos sobre Cetogênica têm demonstrado por que outras patologias, como diabetes e obesidade, são irmãs destes transtornos mentais.

Mas, acima de tudo, as pesquisas têm mostrado como a Cetogênica consegue regular, ou colaborar na regulação, de diversas destas questões com uma única abordagem, a nutricional.

Isso é o que veremos na segunda publicação, do pesquisador Gerwyn Morris, especialista em microbiologia e imunologia, com reconhecidos estudos sobre fadiga crônica. Morris e sua equipe vão se debruçar de forma inédita sobre os mecanismos da cetose no cérebro humano.

Gerwyn Morris e os mecanismos da cetose sobre doenças neuroprogressivas

Nesta extensa publicação, veremos como o corpo cetônico beta-hidroxibutirato é capaz de atuar sobre incontáveis mecanismos ligados às patologias acima mencionadas, as doenças neuroprogressivas (novamente, que incluem depressão, bipolaridade e esquizofrenia).

Regulação de proteína de desacoplamento, destruição de radicais livres, inibição das histonas desacetilases, regulação do fator nuclear eritroide 2 relacionado ao fator 2 (Nrf2) e do FOXO3a, entre diversos outros mecanismos ligados à morte de células e melhoria mitocondrial.

Também, a ativação da AMPK, inibição da mTOR, ativação da autofagia, elevação da NAD+, das sirtuínas e todas as mudanças que ocorrem com a cetose e que são buscadas pelos praticantes de jejum. Justo, os pesquisadores explicarão como a “ativação da AMPK é parte da resposta à inanição que é ativada pela cetose e por níveis elevados de BHB.”

Friso abaixo, pois inanição, jejum e cetose são temas comuns no grupo de membros do Revolução Keto.

A ativação da AMPK é parte da resposta à inanição que é ativada pela cetose e por níveis elevados de BHB.

Seja membro do grupo Revolução Keto: clique aqui para participar

Cetogênica ou suplementações?

É importante colocar cetose e níveis elevados de BHB de forma separada aqui, pois este artigo será enfático com algo que considero ser o futuro da Dieta Cetogênica nestes tratamentos: a suplementação de BHB, via sais ou, melhor ainda, ésteres – sendo que a forma 3-butanediol monoester, mencionada no estudo, já é comercializada como DeltaG, pela empresa HVMN, por 33 dólares cada dose. Ou seja, é algo impraticável para um ser humano atualmente.

Dominic D’Agostino é o pesquisador mais conhecido sobre o uso de suplementações que promovam a cetose independentemente de dieta. Leia a entrevista com D’Agostino aqui: cetogênica para desordens neurológicas e metabólicas

Cetogênica Modificada para colesterol

Como ésteres são impagáveis, este estudo se debruçará por outra via interessante, a modificação da Dieta Cetogênica para uma via com a qual já venho trabalhando há algum tempo.

Quando os pesquisadores mencionam os problemas mais comuns ligados à cetose em médio e longo prazo, referem-se apenas à dislipidemia e aos problemas gastrointestinais decorrentes do imenso consumo de gorduras.

Eles frisam que LDL e VLDL podem sim ser elevados (temporariamente). Porém, de forma justa, enfatizam que HDL se eleva conjuntamente. Contudo, uma pequena modificação pode colaborar na melhoria do quadro. Eles sugerirão:

Uma Dieta Cetogênica com menos triglicerídeos de cadeia longa (a gordura vinda dos alimentos), menos gorduras saturadas animais, e muita ênfase no MCT, já que há evidência suficiente demonstrando que MCTs não tocam no painel lipídico, mesmo sendo uma gordura saturada.

Não é belo? Esta tem sido minha linha de pesquisa e atuação no último ano: o uso inteligente das gorduras, uma evolução bem consolidada da Dieta que já vem desde Ruby Schwarz, em 1989.

MCTs: Dieta Cetogênica inteligente

Ruby sugeriu uma Cetogênica com 60% das calorias vindas de gorduras: 30% de MCT e 30% de alimentos. Contudo, o resultado foi insuficiente em muitos casos. O neurologista Eric Kossoff sugere que a dieta seja ao menos iniciada com 40% a 50% da energia diária vinda de MCT.

Uma das maiores pesquisadoras sobre MCT na Dieta Cetogênica, Yeou-mei Christiana Liu, preconiza que de 40% a 70% da energia diária venha de MCT. Segundo ela, esta abordagem é bem aceita, até porque permite uma significativa elevação de carboidratos.

Gerwin Morris também sugere trocar o perfil das gorduras e utilizar apenas aquelas com maior impacto sobre corpos cetônicos e menor impacto sobre o painel lipídico: os MCTs.

Ele reforça que, desta forma, é possível mudar os macronutrientes da dieta, permitindo mais carboidratos, tornando-a menos restritiva e mais possível em longo prazo.

MCTs emulsionados para questões gastrointestinais

Christiana Liu é honesta sobre os problemas gastrointestinais decorrentes do uso do óleo nas proporções por ela sugeridas (de 40% a 70% das calorias diárias).

Gerwin Morris sugere a utilização de MCTs emulsionados para reduzir o problema.

MCTs emulsionados não são comuns no Brasil e, portanto, concluo falando um pouco sobre eles.

O MCT emulsionado reduz muito as questões gastrointestinais e, mais importante ainda, já há estudos comprovando que ele eleva a eficácia do MCT no organismo e até mesmo o número de corpos cetônicos de forma proporcional às doses, algo que não ocorre com o MCT não emulsionado.

MCT emulsionado caseiro

É possível emulsionar o MCT em casa com lecitina de girassol. A receita seria usar 1/4 de colher de chá de lecitina de girassol em pó para 230ml de MCT. Bater tudo no mixer ou liquidificador até ficar emulsionado, cremoso. Guardar a mistura em um local fresco e seco, longe da luz do sol.

Mas, como estas receitas caseiras ainda não foram devidamente testadas, devo sugerir que MCTs emulsionados de forma industrial sejam usados pelos interessados.

No Brasil, temos acesso à marca Sports Research, considerada um dos melhores MCTs emulsionados no mundo, em duas lojas. Para pessoas que moram fora do Brasil, outra marca elogiada de MCT emulsionado é a Onnit.

Outras fontes (estudos integrais)

Emulsification Increases the Acute Ketogenic Effect and Bioavailability of Medium-Chain Triglycerides in Humans: Protein, Carbohydrate, and Fat Metabolism Alexandre Courchesne-Loyer. Curr Dev Nutr. 2017 Jun 21;1(7):e000851. doi: 10.3945/cdn.117.000851. eCollection 2017 Jul.

Can Children With Hyperlipidemia Receive Ketogenic Diet for Medication-Resistant Epilepsy? Yuou-mei Christiana Liu. Journal of Child Neurology 28(4) 479-483.

Medium-chain Triglyceride Ketogenic Diet, An Effective Treatment for Drug-resistant Epilepsy and A Comparison with Other Ketogenic Diets Yuou-mei Christiana Liu. Biomed J. Jan-Feb 2013;36(1):9-15. doi: 10.4103/2319-4170.107154.

Utilization of Medium-Chain Triglycerides by Neonatal Pigs: Effects of Emulsification and Dose Delivered  Teresa M. Wieland. J. Anim. Sci. 1993. 71:1863-1868

9 Comentários

  1.  Juliana, primeiramente obrigado por trazer “a tona” estes artigos.Fantásticos!

    Além do excelente resumo já feito por ti acima, acho importante reforçar:

    ” Há também um crescente corpo de evidências que sugere que os efeitos benéficos dos MCTs são pelo menos IGUAIS aos fornecidos pelo azeite de oliva extra virgem ( St-Onge et al., 2008 ; Namayandeh et al., 2013 ; Chinwong et al., 2017 ;Khaw et al., 2018 ).

    DETALHE para as compras de MCTs:

    ” Também existem evidências que sugerem que a razão caprílico para cáprico nas preparações de MCT é um elemento importante que sustenta seu efeito favorável ou neutro no perfil lipídico, com altos níveis de ácido caprílico sendo particularmente importantes (para revisão, ver Bach et al., 1996)” .

    1. Pedro, jamais cansarei de dizer: o que seria do Revolução Keto sem teus adendos. Sim, estou literalmente submersa no azeite de oliva neste estudo do painel lipídico, especialmente pela capacidade do oliva em reduzir LDL oxidado. Cada estudo que leio, elevo 1 colher de sopa no meu prato (e dos clientes).

      Eu vou entrar em cada um destes estudos amanhã para ver os métodos e como o oliva atuou para que esta comparação fosse feita. Acho que vale eu editar este conteúdo e colocar tua ênfase na parte principal. O farei assim que tiver alguns minutinhos.

      E sim, sabemos que o C8 é a coisa mais bonita que existe. Não cheguei a encontrar um Brain Octane puro que fosse emulsionado, nem sei se isso é possível. Admito que não me apaixonei pelas proporções dos Cs nos MCTs emulsionados da Onnit e da Sports Research, mas todos os Cs têm seu valor para diferentes propósitos.

      Gratidão sempre!

      1. Tu deve ter lido já a respeito de um experimento que Dave Feldman está fazendo: Dieta ceto com shakes de proteinas e eletrólitos + Manteiga (por 15 dias) ou azeite de oliva (mesmos 15 dias) como escolha única para os lipídios, e ver o que acontece nos exames de sangue (https://cholesterolcode.com/extra-virgin-olive-oil-vs-butter-experiment-design/ )

        Estou bem curioso pelos resultados. Foi já sugerido a ele um novo n=1 com oleo de coco ou MCTs. Tomara que faça.

        Mas infelizmente seu experimento já teve que ser interrompido por mal estar , sem saber ao certo o que causou (https://cholesterolcode.com/evoovsbutter-pause-lmhr-study-update-energy-model-paper/ ).

        Uma pena. Mas ele afirma retomar, então vamos esperar….

        1. Pedro, a única coisa que eu espero do Dave é que ele não morra com estes testes que faz. Coração de mãe, mas fico assustada, porque entrei no mundo dos testes individuais e levarei alguns anos consertando a tragédia. Nunca mais doarei meu corpo (e o futuro das minhas filhas) para a ciência.

          Ele é um cara muito querido e temo que o mundo biohacker ainda precise conhecer freios do mundo psicológico.

  2. Jú, o que pensa da P:E de Ted Naiman? Me veio à cabeça perguntar, pq, segundo entendi, em alguma parte do texto foi sugerido diminuição de gordura, e não do MCT. Mas tb entendi que poderia com isso aumentar os carboidratos, o que talvez não servisse pro P:E. Enfim, sou uma leiga, interessada, psicóloga. Muitos bjs e obrigada por seu conteúdo q muito me acrescenta até na minha prática clínica.

    1. Renata, coloquei a obra PE Diet, do Naiman, na biblioteca dos apoiadores para que todos tivessem acesso. Não tenho nada contra a dieta, só não é uma dieta cetogênica. A Cetogênica é uma dieta de alta gordura. O macronutriente principal é a gordura. Mesmo com a troca de gorduras, perceba que a gordura segue sendo no mínimo 40% da dieta e, mesmo assim, é algo individual, podendo ter que chegar a 60% ou 70% (de MCTs).

      Como expliquei aos membros ao discutirmos a obra do Naiman, gosto da teoria do Naiman para performance física e até emagrecimento: me parece superiora à cetogênica para ambos os casos. Não tenho dúvidas de que uma dieta com gordura reduzida e foco na proteína é mais indicada para músculos. É só observar o resultado. A questão é se este é seu único foco.

      Existe um grande estudo, no caso do emagrecimento, que vale salientar. Eles dizem o que já sabemos: elevação de proteína é excelente para a saciedade, mas há um adendo interessante aqui: quando há cetose confirmada nesta equação, o resultado é ainda melhor já que corpos cetônicos têm, em si, propriedades de saciedade. https://www.lipidjournal.com/article/S1933-2874(19)30267-3/fulltext Então, quando trabalho com proteína elevada (o protocolo do endocrinologista Jay Wrigley, que é uma cetogênica com 50% de proteínas e 40% de gorduras), eu preciso ou me certificar de que há cetose nesta proporção ou usar o máximo das melhores gorduras para incentivar a troca metabólica.

      Ainda, quero que fique de olho no que está sendo de fato proposto por estes autores no estudos deste conteúdo: não é só reduzir gordura, mas sim a redução de produtos animais, algo que já vem sendo debatido pelos estudiosos da microbiota na keto, pela teoria da acidificação, por pesquisadores de elevação de marcadores inflamatórios na cetogênica e carnívora também. E mais, o que eles propõem é elevação de gorduras inteligentes, MCT, não para elevar proteínas, mas sim para elevação de carboidratos na dieta.

      Resumindo, eu sou muito fã da “proteína liberada”, porque existe muito medo em comer no mundo atual e a deficiência de proteínas, se não estivermos falando de cetose, é muito grave. Mas, eu serei a pessoa que seguirá dizendo que baixa gordura em cetogênica é suicídio, como enfatiza a psiquiatra Georgia Ede. E vou além: existe sim um peso muito importante dos carboidratos aqui: algum dia, conseguirei ser mais objetiva sobre o porquê (se é regulação de estressores, se é alcalinização, triptofano, serotonina, não consigo apontar com precisão ainda).

  3. Boa tarde Juliana!
    Achei a ideia de emulsificar MCTs excelente! Agora, o custo da lectina de girassol é bastante elevado aqui no Brasil.
    Sou iniciante na cetogênica e leigo em química. Mas estava pensando…será que outros emulsificantes não serviriam? Tem a goma arábica, a goma guar, a lecitina de ovo, enfim, como não conheço nenhum químico, não seria o caso de estudar a possibilidade de utilizar emulsificantes mais baratos?
    Aproveito para parabenizá-la pela profundidade, seriedade e sensibilidade com que aborda o assunto. Já virei fã!

    1. Marcelo, compartilhamos cabeças nervosas pelo jeito. Goma foi a primeira coisa que me ocorreu (e até bater com ovo, sei lá eu). Mas, eu não testarei em casa. Recomendarei os já emulsionados e seguirei com meus 6 litros de Brain Octane no armário. Se tu te der ao trabalho de testar emulsionadores caseiros, por favor, meça corpos cetônicos para comparar efeitos. Nos traga resultados, que posto aqui para nós!

  4. Boa tarde. Niacina (B3) para equacionar perfil lipídico e as questões mentais todas – aliada à cetogênica. Trabalho profundamente interessante de Abram Hoffer, William Walsh e Andrew Saul.

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