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Dieta Cetogênica Atkins Modificada: guia sobre a mais liberal das cetogênicas

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Pode parecer estranho eu usar o termo “Dietas Cetogênicas”, no plural. Ainda, o leitor pode crer que estou me referindo a variações da cetogênica para performance física e bem-estar, como Cetogênica Cíclica, Preguiçosa (Lazy) ou Focada (Targeted).

Porém, aqui no site, me proponho a divulgar as aplicações terapêuticas da Dieta Cetogênica. Aquelas desenvolvidas por hospitais e estudadas por pesquisadores, utilizadas em tratamentos neurológicos. Neste caso, temos 4 ramificações:

  1. Dieta Cetogênica Clássica
  2. Dieta Cetogênica Modificada
  3. Dieta Cetogênica do MCT
  4. Dieta Cetogênica Atkins Modificada (MAD)

“Há 4 tipos de dieta cetogênica. Não há certo ou errado. É importante que as famílias tenham opção”, argumenta o neurologista Eric Kossoff.

Eric Kossoff está entre os top especialistas em Dieta Cetogênica no mundo. O Revolução Keto acompanha cada palestra, seminário e artigo publicado por este médico, chefe do centro de Cetogênica Pediátrica no Johns Hopkins.

Kossoff é o criador da versão da Dieta Cetogênica Terapêutica chamada de Atkins Modificada (MAD), tema do conteúdo de hoje.

Novo estudo >> Os efeitos psiquiátricos da terapia cetogênica em adultos com epilepsia crônica: Johns Hopkins investiga o que a chamada Atkins Modificada pode fazer pela sua saúde mental

Passaremos bem brevemente sobre cada tipo de Dieta Cetogênica e focaremos na Atkins Modificada de forma prática, para que você consiga fazer ajustes com base nas evidências.

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Disclaimer: este conteúdo é informativo para o público em geral com base em pesquisas científicas e não substitui avaliação com seu profissional de saúde.

1 – Dieta Cetogênica Clássica

A mais restrita das Dietas Cetogênicas deve ser conduzida com acompanhamento médico constante e diversas suplementações, devido aos riscos que apresenta. Os alimentos devem ser pesados em balança, pois cada grama de alimento a mais pode representar um problema nos macronutrientes finais e na eficácia da dieta.

A cetogênica clássica trabalhará com listas de trocas. Diversos alimentos e suas determinadas porções aparecem como equivalentes em uma lista e o paciente pode escolher entre eles para montar seu cardápio final.

Atualmente, a Cetogênica Clássica engloba duas proporções de macronutrientes: 4:1 e 3:1. Ou seja, para cada 3g ou 4g de gordura que o paciente consumir, ele deverá consumir um máximo de 1g de carbs + proteínas.

Como deve ser conduzida com grande acompanhamento médico, por centros especializados, não está entre os tratamentos com os quais trabalho e não o abordaremos aqui no site.

2 – Dieta Cetogênica Modificada

A Cetogênica Modificada mudará a proporção de macros com relação à Clássica, sendo menos restritiva. A Cetogênica Modificada ficará com uma proporção entre 2:1 a 1:1. Isso significa que, para cada 1g ou 2g de gordura que a pessoa consumir, ela deverá comer um máximo de 1g de proteínas + carboidratos.

Por ser menos restritiva, os resultados poderão ser menos eficazes. Portanto, é mais usada em fase inicial, para evitar os riscos da adaptação, ou na manutenção ou até como processo de retirada da dieta cetogênica.

A Cetogênica Modificada pode unir aspectos de todas as Dietas Cetogênicas.

  • Exige pesagem das porções em balanças, mas, conforme a dieta progride e o paciente toma conhecimento, pode passar a usar utensílios domésticos para medir, como colheres e xícaras.
  • Os carboidratos irão de 20g a 30g de carbs líquidos, distribuídos igualmente em refeições e lanches e devem ser consumidos junto com proteínas e gorduras.
  • MCTs podem ser usados.
  • A proteína não é calculada e os pacientes são aconselhados a comer com moderação.
  • Multivitamínicos e minerais são suplementados.
  • Exames são necessários para monitoramento.

3 – Dieta Cetogênica do MCT

Uma das minhas versões favoritas para mulheres em idade reprodutiva, a Dieta Cetogênica do MCT terá a maior quantidade de carboidratos entre as abordagens, mantendo a eficácia da Dieta. Isso é possível devido à escolha da gordura utilizada, o MCT.

Falaremos mais sobre a Dieta Cetogênica do MCT em um conteúdo futuro, pois é diretriz básica entre meus clientes que saibam escolher as melhores gorduras para cada caso.

A Cetogênica do MCT foi criada em 1970 e as proporções de macronutrientes têm sido modificadas ao longo das décadas, devido aos problemas gastrointestinais que o MCT pode gerar. Atualmente, a proporção indicada pelos especialistas fica entre 40% a 50% das calorias diárias vindas de MCT. Estudos já demonstram que quantidades abaixo destas apresentam eficácia menor.

  • Multivitamínicos e minerais são suplementados.
  • Exames são necessários para monitoramento.
  • Carboidratos irão de 15 a 18% da dieta. Se for permitido, os carboidratos do leite de vaca entram nesta conta.
  • Proteínas começam em 10%, mas podem ser elevadas conforme a idade e atividade da pessoa.
  • MCT vai de 40 a 50%. O resto das gorduras virá de triglicerídeos de cadeia longa, de comida. A gordura dos laticínios entra na conta final. Ainda, a gordura vinda das carnes. Geralmente, não contamos as gorduras de peixes, porcos e frango magros, ensina a médica Ph.D em Cetogênica, Elizabeth Neal, nos cursos médicos de Cetogênica.
  • Um estudo conduzido por Neal e Helen Cross mostrou que a eficácia da Dieta do MCT é comparável à cetogênica clássica.

4 – Dieta Cetogênica Atkins Modificada (MAD)

Chegamos ao tópico de hoje, a versão da cetogênica criada pelo grande neurologista Eric Kossoff, a Atkins Modificada. Ao final deste conteúdo, você encontrará materiais referenciais fundamentais para conhecer esta dieta cetogênica, que é mais liberal e fácil de manter.

“A diferença da Atkins modificada é que o foco é apenas o controle dos carboidratos. Em vez de calcular todos os macronutrientes, olhamos apenas para os carboidratos”, explica Sue Wood, nutricionista especializada em Cetogênica para tumores cerebrais.

A MAD foi criada em 2001, no Johns Hopkins, com base no pedido dos pais que queriam calcular menos. É mais usada em jovens e adultos. Usualmente, os carboidratos são limitados de 15g a 20g de totais ao dia.

É geralmente usada em tipos menos severos de epilepsia e já há estudos buscando como usá-la para outros tratamentos que não epilepsia. Confira abaixo o excerto de uma das aulas sobre Atkins Modificada do curso de aplicação médica da Cetogênica da Matthews Friends.

 

 

Diretrizes práticas da Cetogênica Atkins Modificada

Dr. Eric Kossoff explica as questões gerais da dieta que desenvolveu. A Atkins Modificada é menos restritiva que a clássica ou que a dieta do MCT, pois não há limitação com proteínas, não precisa de internação hospitalar e mantê-la é mais fácil. Não existe restrição de calorias, então é menos necessário medir ou pesar a comida.

  • A quantidade de carboidratos nesta versão da Cetogênica ficará entre 10g a 20g líquidos ao dia, dependendo da idade ou da fase da dieta.
  • A Atkins Modificada não considera as fibras do alimento na conta de carboidratos. Por isso, esta dieta utiliza apenas carboidratos LÍQUIDOS na contagem.
  • Eritritol e xilitol devem ser sim somados à conta de carboidratos, mas fibras não entram. Lembremos: 1 colher de chá de eritritol ou xilitol possui 4g de carboidratos líquidos. Assim, é comum vermos o uso de sucralose nesta dieta.
  • As porções são medidas com utensílios de cozinha e não com peso na balança, como na cetogênica clássica.
  • Não existe uma quantidade específica de proteínas, mas manter moderação é recomendado.
  • Alimentos de alta gordura são encorajados e porções generosas de gorduras são incluídas em todas as refeições e lanches. Todas as gorduras são recomendadas, não havendo foco no uso do MCT.
  • Não existe prescrição de quantidade calórica. O que se observa é o peso do paciente, se ele está ganhando ou perdendo ao longo da dieta.
  • Há suplementação de multivitamínicos e minerais, que é igual para todos. Exames de monitoramento são necessários.
  • Adultos mantêm um calendário diário dos sintomas, fazem pesagem semanal, e focam intensamente na hidratação.
  • A frequência de medição de corpos cetônicos muda de centro para centro. O monitoramento dos corpos cetônicos é diário, até que o paciente atinja corpos cetônicos moderados ou altos. Ao atingir números estáveis, passa-se a medir duas vezes na semana.

Veja como medir corpos cetônicos no sangue e na urina na seção Tudo Sobre Cetogênica

Comparação das dietas cetogênicas

Em termos gerais, todas as dietas cetogênicas possuem proteína moderada, alta gordura e baixo carboidrato.

A Cetogênica do MCT terá mais carboidratos, mesmo que baixos aos olhos da nutrição padrão. A Dieta do Baixo Índice Glicêmico também terá carboidratos elevados e também é considerada uma abordagem cetogênica, apesar de não ter corpos cetônicos como meta, mas sim a estabilização da glicose.

Porém, o quadro muda na MAD e na Cetogênica Modificada, com baixíssimos carboidratos.

“A Atkins Modificada e a Cetogênica Modificada geralmente manterão 5% da energia vinda de carboidratos. A quantidade de carboidratos destas dietas é comparável à cetogênica clássica”, afirma Sue Wood.

Estudo de caso Atkins Modificada

Analisemos um caso para compreendermos a aplicação prática. Menino de 10 anos, com atividade física normal. Peso estável de 35kg. Necessidades calóricas de 2000 diárias. Proteína mínima diária de 32g.

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A Atkins Modificada começaria com menos carboidratos e os aumentaria mensalmente. Neste caso, o ideal seria 10g de carboidratos líquidos no mês inicial da dieta, aumentando para 15g, 20g etc por mês. Gorduras são liberadas e incentivadas. Proteínas são liberadas com bom senso.

A Atkins Modificada exigiria sim monitoramento e suplementações. “Precisamos do feedback das famílias. Checar o peso semanalmente, corpos cetônicos na urina ou sangue, sintomas. Não falo apenas de crises convulsivas, mas insônia ou sono em excesso, tudo isso precisa ser monitorado e anotado em diários. O feedback semanal é fundamental”, diz Wood.

Como todas as dietas cetogênicas, a principal questão é o monitoramento dos sintomas e não apenas números de corpos cetônicos. Ajuste na dieta (fine-tuning) é necessário para controlar efeitos colaterais, crescimento e peso em adultos.

Estes ajustes são feitos com base no aumento ou redução de macronutrientes ou porções ou até alterando as calorias dependendo do objetivo. Tudo isso levará à modificação de níveis de corpos cetônicos.

 

Comparação da eficácia entre as dietas cetogênicas

Mackenzie Cervenka, Professora associada na Epilepsy Division para adultos na Johns Hopkins, analisa a eficiência das abordagens nos estudos.

  • Estudos recentes mostram que a eficácia da cetogênica clássica para epilepsia em adultos é de 52%
  • No caso da Atkins Modificada, a eficácia cai para 32%
  • Estes 32% de eficácia da Atkins Modificada também são vistos na aplicação pediátrica desta versão da dieta.
  • Vale lembrar que a Dieta do MCT tem eficácia comparável à clássica.

Contraindicações das Dietas Cetogênicas

Há contraindicações absolutas e relativas para a dieta cetogênica. A maior parte das contraindicações absolutas são condições metabólicas. Muitas destas questões devem ser examinadas antes de começar a dieta.

Pessoas com refluxo gastroesofágico podem piorar na dieta, mas já há relatos de caso apontando melhoria da condição com a dieta, especialmente quando as gorduras são bem escolhidas, privilegiando MCT, e quando as porções por refeição são reduzidas. Anormalidades ou insuficiência de rins, fígado ou pâncreas também são contraindicações significativas.

Contraindicações absolutas: quem jamais deve fazer a cetogênica

  • Deficiências de: carnitina primária, carnitina-palmitoil transferase I e II, carnitina-acilcarnitina translocase
  • Defeitos de beta-oxidação dos ácidos graxos: deficiência de Acil-CoA desidrogenase de cadeias médias, deficiência de Acil-CoA desidrogenase de cadeias muito longas, deficiência de Acil-CoA desidrogenase de cadeias curtas, Deficiência de 3-hidroxiacil-CoA desidrogenase de cadeias longas e médias
  • Deficiência da enzima hepática piruvato carboxilase
  • Porfiria

Contraindicações relativas: cada caso deverá ser avaliado 

  • Incapacidade de manter uma nutrição adequada
  • Indicação primária de cirurgia, em vez de abordagem cetogênica
  • Incapacidade de manter a abordagem nutricional terapêutica

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Referências e materiais extras