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Especial Chris Palmer: Guia de saúde mental para tempos de pandemia

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Psiquiatra de Harvard, Chris Palmer é o grande nome a ser seguido quando falamos de Dieta Cetogênica para transtornos mentais. Não à toa, sou parte do grupo de voluntários do psiquiatra, responsáveis por fazer o projeto do médico expandir: pesquisas científicas sobre os benefícios da cetose no tratamento de depressão, esquizofrenia, bipolaridade, compulsão alimentar, alcoolismo, déficit de atenção e outras doenças psiquiátricas.

Contudo, o mundo parou frente ao avanço da covid 19 e o olhar exclusivo sobre a cetose parece um tanto quanto deslocado neste momento, especialmente para este público.

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A cada dia extra de confinamento e possível degradação econômica, o novo foco se intensifica: como se manter ativo e minimamente estável em um momento de intenso medo, estresse e isolamento social? Como lidar com a ansiedade dos anos de recessão e instabilidade que virão? Como encontrar algum propósito quando o contexto parece nos esmagar?

Chris Palmer fez o óbvio: criou um especial sobre saúde mental em tempos de Corona tocando em todas estas questões. A pedidos da equipe de Palmer, trago o conteúdo para cá, porque nos atinge diretamente. Você lerá o artigo do psiquiatra logo abaixo, mas, antes, deixo um convite importante.

Live | Saúde mental e sentido de vida

Discutimos ao vivo os principais temas deste conteúdo em um debate especial no YouTube, com a participação do grande psicólogo e filósofo Ivan Pielke. Esta live recebeu as mais significativas avaliações de vocês no chat ao vivo. Sua participação é sempre fundamental e, por causa destes belos comentários, Ivan já está convocado para voltar inúmeras vezes ao Revolução Keto.

Ivan Pielke é especialista em Sentido de Vida, com ênfase no neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankl. Sobrevivente do Holocausto, Frankl é autor do best-seller Em busca de sentido e é reconhecido como um dos maiores psiquiatras da história, sendo criador de um método terapêutico baseado na busca pelo sentido da vida, a Logoterapia.

Viktor Frankl e o Sentido de Vida são a base deste conteúdo produzido pelo próprio Chris Palmer à Psychology Today. Tenho visto muitos nomes da Low Carb divulgando ideias de Frankl nos últimos dias, mas escolho uma frase específica para resumir o pensamento do austríaco, com a qual minhas clientes certamente se identificarão:

Nós podemos descobrir o significado da vida de três diferentes maneiras: fazendo alguma coisa, experimentando um valor ou o amor, e sofrendo.

Leia o conteúdo de Chris Palmer abaixo!

Chris Palmer: Guia de saúde mental para sobrevivência do Corona

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Todos sabem que a pandemia de coronavírus está se espalhando rapidamente pelo mundo. Se você é uma pessoa comum, está chocado com o que ocorre atualmente. O mundo em que vivemos está sendo esmagado por um freio sem precedentes.

As empresas estão fechando temporariamente. Os empregados estão sendo enviados para trabalho em casa. Escolas estão sendo fechadas. A indústria do esporte também. “Distanciamento social” é a frase do momento. Não se engane, tudo isso está sendo feito por um bom motivo. A vida de milhões de pessoas depende destas medidas drásticas.

Como você e sua família cruzarão este momento?

Nos Estados Unidos, as coisas estão apenas começando. A maior parte destas medidas está na fase inicial. Isso certamente prosseguirá por semanas, mas algumas pessoas preveem muitos meses. Conforme o tempo passa, a vida ficará mais e mais difícil.

Um risco à saúde e ao bem-estar, além do próprio corona, é o efeito da pandemia na saúde mental da população. As ameaças mais imediatas são o medo, a monotonia e a ansiedade. Ao longo do tempo, a solidão e a depressão serão adicionadas à lista. Para aqueles que possuem transtornos mentais pré-existentes, o estresse disso tudo já pode estar assumindo um caráter mais grave.

Vamos falar sobre as ameaças.

Medo

Há duas fontes de medo primárias no momento: o vírus e a economia.

Medo do coronavírus

O medo do coronavírus é óbvio e claro. Envolve manter aqueles que amamos e a nós mesmos seguros, enquanto buscamos a segurança da nossa comunidade. O mundo mudou abruptamente. Ligamos os noticiários para atualizações diárias sobre quantos estão infectados e quantos morreram.

Somos orientados a estocar elementos essenciais para que possamos ficar mais em casa. Vamos aos supermercados e vemos pessoas em pânico enchendo carrinhos e limpando as mãos. Imediatamente, ficamos preocupados com tudo que tocamos. Enxergamos pessoas com papel higiênico, lenços umedecidos e produtos de limpeza.

Vemos que produtos de higienização estão se esgotando em todos os lugares e nos questionamos se temos o suficiente. Quando os novos estoques chegarão? Será que estamos para trás na prevenção?

Muitos estão ficando hipersensíveis aos sintomas físicos que aparecem. Um nariz congestionado. Uma tosse aleatória. Uma queda de energia. Será que tenho o coronavírus? Sobreviverei? Transmitirei às pessoas? Por que não consigo fazer o teste?

Medo da economia

O medo com relação às nossas vidas, ao nosso ganha-pão, à nossa poupança está no limite. Empregados de companhias aéreas, hotéis, restaurantes, eventos esportivos e outras indústrias dizimadas estão em pânico. Eles veem seus trabalhos sendo varridos, ao menos temporariamente, de uma forma sem comparação, que ninguém conseguia prever.

Em poucas semanas, eles estão se preocupando e ruminando se terão trabalho ou não. Serão demitidos? Quanto tempo isso durará? Quando as coisas voltarão ao normal? Como pagarão as contas?

A queda do mercado de ações teve um dos maiores declínios registrados. Tivemos a mais rápida queda da história (Bear Market, definido por um declínio de 20% ou mais nos valores das ações). Há oscilações no mercado diariamente, para cima ou para baixo. As pessoas assistem às suas economias despencando e ficam preocupadas. Independentemente de quanto possuíam em suas contas, estes declínios dramáticos são desconcertantes, no mínimo.

Leia também: Dieta Cetogênica para transtornos do humor e doenças mentais [Guia com Chris Palmer]

Monotonia e ansiedade: a importância da rotina

A rotina nos coloca em um modo automático enquanto cuidamos das prioridades. Ela nos mantêm em foco sem termos que pensar a respeito de tudo.

Conforme as pessoas se distanciam e se recolhem em casa, dois sentimentos emergem: monotonia e ansiedade. Muitos já estão passando por isso. Por mais que estes sentimentos soem como benignos para alguns, monotonia e ansiedade podem nos colocar em perigo se durarem por um tempo mais significativo.

Seres humanos são criaturas de hábito. Temos rotinas. Precisamos nos manter ligados aos nossos horários cotidianos.

O alarme toca. Levante-se. Tome um banho e se vista. Leve as crianças para a escola Chegue ao trabalho a tempo. Faça suas tarefas. Pegue as crianças. Vá para casa. Prepare o jantar. Relaxe em frente à TV. Vá para a cama. Repita.

Horários e responsabilidades diferem, mas a maioria das pessoas têm uma rotina. Rotinas nos mantêm produtivos. Elas permitem que cumpramos as coisas que priorizamos em nossas vidas – carreiras ou empregos, família, cuidar dos pais, dos pets, passar tempo com amigos, desenvolver projetos em casa etc.

Conforme construímos nossas vidas e priorizamos aquilo que queremos incluir em nossas histórias, ajustamos nossas rotinas para que tudo caiba ali. A rotina nos coloca em um modo automático enquanto cuidamos das prioridades. Ela nos mantêm em foco sem termos que pensar a respeito de tudo.

Quando nossas rotinas são quebradas, cumprir as prioridades pode ser seriamente comprometido. Muitas pessoas começam a se sentir perdidas. Elas não têm certeza sobre o que fazer com seu tempo. Elas começam a ter tempo demais em suas mãos e até arranjam algumas tarefas, mas, no fim do dia, pode surgir a sensação de que não fizeram tanto quanto deveriam. Isso gera estresse, monotonia e ansiedade.

Nossas rotinas foram altamente quebradas. Isso ocorreu com uma velocidade sem precedentes e afetou um número de pessoas sem comparação. O que ocorrerá como resultado?

No fim, apenas o tempo dirá. Se tudo isso acabar rápido, talvez nada significativo ocorra. Mas, se a pandemia persistir, como muitos preveem, teremos riscos para observar.

Conheça o site do psiquiatra Chris Palmer: doenças mentais e metabólicas

Riscos para a saúde mental se a pandemia persistir

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Use suas telas com sabedoria: reúna-se com familiares, amigos, pesquise, faça cursos, invista na sua carreira. Na foto, Juliana Szabluk em reunião com Palmer. 

O risco de preencher o tempo com uso excessivo de telas

O problema é que as telas podem sugar as pessoas e nunca mais libertar.

A maioria dos norte-americanos desenvolveu um mau hábito nos últimos 10 anos: estamos viciados em nossas telas e celulares. Muitas pessoas passaram a ter problemas com tempo livre, mesmo que seja por alguns minutos. Fica difícil tolerar estar sozinho com seus pensamentos. É como se fosse uma “perda de tempo”.

Então, elas puxam seus celulares e entram em outros mundos. Um mundo que nunca para. Um mundo que nos permite estar conectado o tempo todo. Podemos ver o que está acontecendo imediatamente nas notícias, e-mails, mídias sociais ou mercado de ações. Não queremos perder nada.

O problema é que as telas podem sugar as pessoas e nunca mais libertar. No fim, o mundo digital não contribui muito para que cumpramos nossas prioridades – trabalho, família, amigos, tarefas de casa. E são estas as questões que dão sentido e significado às nossas vidas.

Nossos celulares não ajudam nisso. Claro, eles podem ser uma ferramenta excelente para a comunicação, para compartilhar fotos ou checar e-mails de trabalho urgentes. Sim, certamente há usos válidos e necessários para os celulares. Mas, em termos gerais, eles são simplesmente utilizados para preencher o tempo ou nos distrair de nossos próprios pensamentos.

Com tanto tempo livre neste tempo de crise – e a falta das rotinas – muitas pessoas recorrerão a este hábito e ficarão mais conectadas aos seus celulares. De forma alternativa, assistirão à televisão, muito mais do que já fazem habitualmente. Qualquer uma destas atividades pode ser legal para passar o tempo, mas, no fim do dia, surgirá o sentimento de estar perdido, sem propósito e sem significado.

Este sentido de propósito e significado é muito importante, não apenas para nossa saúde mental, mas também física.

Hora da festa: álcool, CBD, maconha e outras drogas

Um dos maiores riscos para a saúde e o bem-estar é o perigo do aumento do uso de álcool, canabidiol, maconha e outras drogas recreativas. Se as pessoas não estão mais indo ao trabalho, seja porque estão trabalhando de casa ou foram dispensadas, parece perfeitamente racional tomar um drinque ou dois, talvez fumar um pouco de maconha para acalmar e relaxar no fim do dia.

Claro, estamos todos seguros em nossas casas: por que não? Alguns podem ver este momento como um novo tipo de férias ou feriado e todos gostamos de relaxar nestes períodos.

Outros estão apenas preocupados e estressados de formas indescritíveis, em pânico com relação aos seus empregos ou economias. Eles podem sentir que precisam de algo para tirar suas mentes de tantas más notícias ou podem crer que o álcool ou outras drogas recreativas ajudarão.

Não há dúvidas de que álcool e outras drogas farão sim as pessoas se sentirem melhores em curto prazo. É por isso que tantos os utilizam. Contudo, se esta pandemia persistir por um longo tempo ou se a queda na economia se mantiver, é previsível que estas pessoas desenvolverão dependência. Pode ser difícil parar o uso quando as coisas voltarem ao normal. Para aqueles que já têm problemas com álcool ou drogas, tantas más notícias certamente agravarão a situação.

A seriedade da solidão

Possivelmente, é cedo demais para que a maioria das pessoas sinta os efeitos do distanciamento social. Todos conseguimos passar alguns dias ou semanas sem contato. Contudo, conforme o tempo passa, muitos começarão a sentir desconexão com os colegas de trabalho, amigos, famílias e até multidões anônimas em eventos esportivos ou salas de cinema. Aqui, surge o risco da solidão.

Alguns acreditam que a solidão é apenas um estado mental, algo mental. Mas, na realidade, a solidão está sendo cada vez mais reconhecida como um fator de risco para inúmeras doenças físicas e mentais.

Depressão em tempos de Corona

Não resta muita dúvida sobre o aumento da depressão clínica caso a pandemia prossiga por mais tempo. Todos os fatores listados neste texto estão diretamente ligados à depressão: medo, insegurança profissional ou financeira, isolamento social, uso de drogas, uso excessivo de telas, perda de sentido e de significado. Precisaremos observar estas questões com atenção em nós mesmos e nas pessoas que amamos, nossos amigos, colegas. Há muito a ser feito para minimizar estes riscos. Se a depressão vier, há tratamento.

O que fazer no caso de depressão?

A primeira coisa é observar os riscos avaliados neste texto. Analise como você e seus entes queridos estão enfrentando estes itens. Cuide de padrões mentais preocupantes. Fale com eles a respeito. Não tenha medo de discutir temas difíceis. Seja gentil. Deixe que percebam que é normal que você esteja preocupado, estressado, sentindo vazio ou confusão. Ainda, deixe que saibam que você quer ajudá-los a encontrar uma nova forma de lidar com tudo isso.

“Não desperdicem estes dias difíceis”

Um dos desafios em discutir significado e propósito é que, frequentemente, as pessoas estão buscando uma pílula mágica. Elas querem uma resposta simples e concisa. Infelizmente, não é tão simples para a maior parte das pessoas.

Lidar com todo este medo, caos e quebras de nossas vidas é difícil. Vamos nos aprofundar em um aspecto importante no cuidado consigo mesmo e com nossos amados através das crises: encontrar um sentido de significado e propósito.

Significado e propósito são geralmente relacionados à religião, espiritualidade ou moral. Para muitos, este é o caso. Outros não são tão ligados à religião ou à espiritualidade e podem pensar que se tratam apenas de ideias ou percepções. Desta forma, podem ser modificados facilmente. Ainda, não importariam tanto no grande esquema da vida.

Contudo, ter um sentido e um propósito de vida gera profundos efeitos na saúde humana: tanto na saúde física quanto mental.

O Papa Francisco foi recentemente entrevistado pelo La Republicca. Na entrevista, ele pedia às pessoas que “não desperdicem estes dias difíceis”.

“Nestes dias difíceis, podemos reencontrar os pequenos gestos concretos da proximidade em relação às pessoas que estão mais perto de nós, um carinho em nossos avós, um beijo nas crianças, nas pessoas que amamos. São gestos importantes e decisivos. Se vivermos esses dias assim, eles não serão desperdiçados.”

Leia a entrevista com o Papa em português

(uma nota sobre distanciamento social: se os seus avós não vivem com você, talvez seja prudente ignorar a parte sobre visitá-los e prover carinho neste momento)

O Papa é obviamente um homem religioso. Ele sugere que o amor por nossas famílias é uma importante parte do nosso significado e propósito de vida. Não há dúvidas de que isso é verdadeiro para a maioria de nós. Mas, há algo além disso?

Um dos desafios em discutir significado e propósito é que, frequentemente, as pessoas estão buscando uma pílula mágica. Elas querem uma resposta simples e concisa.

Infelizmente, não é tão simples para a maior parte das pessoas. Todos temos inúmeros papeis e metas na vida. Há muitas questões que nos dão significado e propósito. Confiar em um ou dois destes elementos pode nos tornar vazios ou confusos.

Por exemplo, se significado e propósito são mais complexos do que crenças religiosas, mas mesmo assim muitos sugerem que eles são suficientes para nós, isso pode gerar culpa quando surgirem a necessidade ou o desejo de algo a mais.

Culpa e vergonha são emoções tóxicas para a saúde humana.

Portanto, exploremos ambas.

Em busca de sentido

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Viktor Frankl, neurologista e psiquiatra austríaco que sobreviveu aos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, trouxe vida ao conceito de significado e propósito em seu livro, Em Busca de Sentido.

Tudo pode ser tirado de um homem, exceto uma coisa, que é a última de suas liberdades: a de escolher uma atitude em qualquer contexto ou circunstância, a de escolher seu próprio caminho.

Frankl sugere que encontrar significado e propósito na vida é o suficiente para que as pessoas persistam através dos tempos mais desafiadores. Se você não leu este livro, eu o recomendo fortemente. Dr. Frankl sabia muito sobre adversidade e experiências capazes de destroçar uma vida.

Teste de avaliação para significado e propósito em sua vida

Em termos gerais, para começar a observar seu próprio significado e propósito de vida, proponha estas grandes questões a si mesmo:

  1. Por que você está vivo?
  2. Quem depende de você e por quê?
  3. De quem você depende e por quê?
  4. Como você ajuda outras pessoas da sua comunidade e no mundo?
  5. Como você cuida de si mesmo?
  6. Como você se mantém e mantém a sua família?
  7. Quais são as suas paixões?
  8. O que você ama fazer?

Estas perguntas lhe ajudarão a começar.

Se elas forem muito difíceis de responder ou se você não gostar das respostas que possui, especialmente em tempos de caos e quebra econômica no mundo, mantenha-se conectado para mais conteúdos.

Se você tem uma boa resposta, sólida, para estas perguntas, considere-se sortudo. Você quase que certamente tem um forte sentido de significado e propósito em sua vida.

(Via Psychology Today)